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Eu não sou mãe.

Atualizado: 2 de mai. de 2020


Quero começar esse texto dizendo que eu não sou mãe, que posso empatizar com ideia de como deve ser, mas que eu jamais saberei, pelo menos até me tornar uma.

Eu não sou mãe, mas vivo rodeada de muitas delas, todos nós vivemos. Já pararam pra pensar que a garçonete que serve o café no restaurante é mãe? Que a chefe, que você insiste em chamar de megera, também é? Que a telemarketing, que fala com você em nome da NET, também pode ser? Assim como todas as profissionais que nos rodeiam diariamente?

As mães estão por todos lados, estão em cada pessoa que você olha. Por trás de cada ser humano que vemos, existe uma mãe, ninguém nesse mundo nasceu de outra forma, todos nós viemos do mesmo lugar, do único lugar que se pode vir a esse mundo. Então, por que somos tão insistentes em tratar mal quem gera a vida?

Eu não sou mãe, mas cresci ao lado de uma e, antes mesmo de saber o que significava, já percebia a tripla jornada de trabalho. Lá estava minha mãe, divida entre a esteira da fábrica de calçados, o trabalho da casa e o trabalho de ser mãe. Sim, ser mãe é e dá trabalho. Se nós, mulheres, temos jornadas maiores e mais pesadas que a dos homens, as mães, têm jornadas ainda maiores.

Eu não sou mãe e, durante muito tempo, eliminei a ideia de um dia me tornar uma, parecia fazer parte de uma carreira bem sucedida. Como tornar-se uma profissional reconhecida? Comece não sendo mãe. Enquanto o patriarcado elimina o pai da responsabilidade de educar e criar uma criança, ele elimina a mãe de uma carreira bem sucedida e de muitas vagas de emprego. Se o pai passa ileso dessa responsabilidade, a mãe torna-se, imediatamente, a única responsável pela criança. É aquele famoso: cadê a mãe dessa criança?

Eu não sou mãe, mas vejo a gritante diferença entre um pai que faz o mínimo e a mãe que se vira em mais de mil para cuidar da carreira e do filho. Mais comprometidas que a maioria dos homens, as mães ainda lidam com a culpa de não serem mães e profissionais suficientemente boas. Uma culpa criada pela sociedade para penalizar todas mulheres que ousarem ser mães mantendo a sua própria existência.

Eu não sou mãe, mas aprendi a admirar cada uma delas, aprendi a enaltecer o trabalho delas e aprendi, acima de tudo, que mães são mulheres maravilhosas, mas que não são supermulheres, recebem esse título pra que não reclamem da tripla jornada que precisam encarar diariamente, como se pra ser uma supermãe, fosse necessário fazer tudo sozinha.

Eu não sou mãe, mas quero dizer pra todas elas aproveitarem ao máximo o dia de hoje porque, amanhã, tudo volta ao normal: arrumar as crianças e levá-las pra escola, seguir para o trabalho, cumprir as oito horas ou mais, voltar, lavar roupa, dar banho nas crianças, colocá-las pra dormir e torcer pra sobrar um tempinho pra mulher que elas nunca deixarão de ser. Eu não sou mãe, mas ofereço todo meu apoio e admiração a essas mulheres que lutam, diariamente, contra o machismo estrutural no qual vivemos.

Eu ainda não sou mãe, mas prometo me juntar a essa luta pra que a próxima geração de trabalhadoras possa decidir ser mãe sem carregar o peso que as mães de hoje precisam.

 


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